MAIS,
SEGURANÇAPor Carlos Amaral, 17.07.2012
Cilindrada, potência e torque. Qual dessas características da moto será melhor aproveitada pelo piloto para se manter na trajetória de uma curva?
Desequilíbrio nas saídas de curvas pode ser causada pelo descontrole nas reacelerações
Bem, sabemos que cilindrada é a quantidade de ar e combustível dentro de um recipiente chamado cilindro (medida em cm³); torque é a força produzida da queima da mistura do ar e do combustível dentro do cilindro (medida em kgf-m); e potência é, também, uma força produzida pela queima da mistura ar/combustível dentro do cilindro (medida em cv ou hp).
Embora o Torque seja a força que aparece antes, a Potência é a responsável de dar a velocidade na moto através do giro no acelerador. Por isso que alguns condutores de motocicletas “se perdem” nas curvas quando ao re-acelerar a moto sai da inclinação necessária para se manter na trajetória e “se espalha”, saindo para fora da curva. Com motos muito potentes e leves podem até mesmo subir a frente deixando o pneu frontal sem contato com o solo, ou derrapam por causa da forte potência despejada repentinamente na roda traseira.
Às vezes o contrário acontece, quando não se dá força suficiente no acelerador a moto tomba na inclinação, principalmente em manobras curtas e em baixa velocidade o motor poderá “apagar”. Ou mesmo em médias velocidades, o condutor aciona a embreagem antes de entrar na curva e continua acionada durante a trajetória neutralizando a força do motor levada para a roda traseira.
Veja só: torque = força e potência = força. Forças que dão o equilíbrio e auxiliam no re-equilíbrio da moto. Assim, além de olhar para o objetivo (final da curva), de contra-esterçar, de acreditar nos limites de inclinação do modelo de sua moto, já comentados nos artigos anteriores, o piloto terá que controlar a mão no acelerador e re-acelerar com mansidão. Ou seja, controlar a potência produzida pelo motor e pela força dada pelo condutor ao girar a manopla do acelerador.
Então, como podemos
equilibrar (ou re-equilibrar) a moto através do controle dessas forças
produzidas no motor?
Aproveite das configurações dos motores:
Motores "V-2">: torque e potência surgem muito rápido nas reacelerações
Motos de
médias e grandes cilindradas, onde a potência surge muito rápido, com configurações
de motores com um só cilindro, biciclíndrica em “V” ou em “L” e tricílíndrica
em linha,
em baixas e médias velocidades, mantenha a aceleração dentro da curva e
re-acelere com progressividade para sair da curva. Estou dizendo isso, pois
sei que você já reduziu a velocidade e as marchas antes de entrar nas curvas.
Se necessário, aperte o
manete da embreagem não com tanta força, mas com “meia” força para assim não
despejar muita potência e desequilibrar a moto, principalmente se esses motores
possuírem comando de válvulas duplo (DOHC) e desmodrômico. Estes motores
“gostam” de rotações mais altas e quando estão em regimes de baixa velocidade,
em 1ª ou 2ª marchas eles “pedem” maior aceleração. Desta forma, a
progressividade nas re-acelerações é muito importante para se manter o
equilíbrio e a regularidade das acelerações, evitando aqueles pequenos “coices”
que jogam o piloto para trás desequilibrando a moto ou até mesmo empinando.
Com motores de
dois, quatro ou seis cilindros em linha e boxer (cilindros opostos), nas retomadas de
acelerações a potência é despejada na roda traseira com suavidade. Dessa forma,
a necessidade de usar a embreagem para controlar as re-acelerações é
praticamente nula. Somente gire a manopla do acelerador com mansidão e
progressividade que a moto se mantém e sai das curvas com docilidade.
Motores menos potentes, de baixa cilindrada, em
configurações mono e biciclíndrica em linha, com comando de válvulas
simples (SOHC ou OHC) são “mais domáveis” nas retomadas de acelerações. Em
baixas velocidades, como em manobras curtas, deve-se tomar cuidado
para que o motor não falhe. Assim, um leve toque na embreagem pode se usar para
o motor não apagar. Porém, nas re-acelerações a embreagem poderá ser esquecida.
Nestas características, algumas fábricas produzem motores com “balancins
roletados” nos comandos de abertuta e fechamento de válvulas. Assim, as
re-acelerações são mais suaves e dóceis.
Motores que não possuem marchas, como modelos de scooters,
deve-se conhecer o “tempo” das re-acelerações. Em certas situações as retomadas
de velocidade são retardadas. Na hora de dar aceleração, o motor demora para
despejar a potência e a moto perde equilíbrio. Dá aquele susto, quando em
inclinação o piloto põe o pé no chão.
Contrloe eletrônico de tração não faz milagres; o importante é aplicar as técnicas aprendidas para fazer curvas com sua moto.
Controle Eletrônico de Tração – A tecnologia eletrônica
apareceu para acertar quando o piloto erra. O Controle Eletrônico de Tração
evita a derrapagem do pneu traseiro quando o piloto dá muita força no
acelerador enquanto inclinado nas curvas. Porém, ela não evita que a moto
seja jogada para fora da curva (força centrífuga). Portanto a eletrônica não
faz milagres. A aplicação de todas as técnicas explicadas nos artigos
anteriores, mais o que foi dito aqui, sem dúvida estaremos crescendo no
conhecimento e nos transformando de simples condutores para grandes pilotos.
Portanto, assim como nas
frenagens, nas re-acelerações – seja a moto com muita ou pouca potência – é uma
questão de sensibilidade. Essa sensibilidade é imprescindível no momento de
fazer, de se manter e de sair das curvas.
Bem, acho que o assunto
curvas terminou, por enquanto. A partir dos próximos artigos vamos postar
assuntos sobre comportamentos humanos e técnicas de pilotagem urbana. Até lá.
Obs.: Para facilitar a discussão sobre esse assunto, criamos um tópico
no fórum para os motonliners. Clique aqui para
acessar o tópico.
Fonte: Texto e fotos: Carlos Amaral - Instrutor de pilotagem defensiva
certificado pela Honda, instrutor de trânsito do Detran-SP na especialidade
Direção Defensiva, palestrante da Porto Seguro Cia de Seguros Gerais, blogueiro
e diretor operacional da Carlos Amaral Motorcycle Training